sábado, 5 de março de 2022

Qualquer um de nós

     Dona Edith saiu esbaforida do banco. Acabara de sacar mil e quinhentos reais  na "boca" do caixa, pois sozinha não sabia usar o caixa eletrônico. Sua neta, Antônia, que sempre a auxiliava nesse tipo de demanda, estava num retiro de sua igreja com seus amigos. Muito apressada, sem olhar direito ao redor quando saiu, não percebeu dois sujeitos que estavam escorados no canto da agencia bancária, de olhos fixos na senhorinha. Dona Edith tinha um casamento para ir, e pelas suas contas, o evento já devia ter começado pelo menos uns quinze minutos. "Meu Jesus! Vou chegar mais atrasada que a noiva!", reclamava ela em pensamento, enquanto corria para o carro que estava estacionado no outro lado da rua, que estranhamente naquele horário, não estava movimentada. Pelo contrario, fora ela e os dois sujeitos que avançavam rapidamente em direção dela, mais ninguém. O sujeito da frente num passo impaciente com a mão dentro da jaqueta, parecia prestes a tirar algo de lá, estava a apenas três metros de dona Edith, que estava totalmente alheia ao que iria lhe acontecer, tão preocupada em chegar logo no casamento da filha da amiga, deixou a chave do carro cair quando tentava enfiar na fechadura do veículo.

    "Parada aí senhora senão eu atiro." falou o homem que surgira do nada pressionando o revolver com força no lado esquerdo de d. Edith - "e caladinha, nem um pio, senão meto bala!" sussurrou o bandido rápido em seu ouvido quando percebeu que a velha iria gritar. Passa a bolsa agora velha! disse ele no mesmo sussurro. Com as mãos trêmulas, d. Edith entregou a bolsa ao assaltante que meteu logo dentro da jaqueta que vestia, ainda com a arma em d. Edith, olhando rápido para os lados e fazendo sinal com a cabeça para o comparsa que estava na calçada do outro lado do carro, com a mão por baixo da camisa, segurando também uma arma, provavelmente.

    Permaneceu de olhos fechados alguns segundos com as mãos para cima, até se dar conta que estava sozinha. Os bandidos rápidos como surgiram, rápidos como sumiram. Ficou parada ainda uns dois minutos na posição que estava, exceto pelas mãos que estavam em posição de descanso, mas ainda tremulas. Se abaixou novamente para juntar a chave do carro, e ao entrar, antes de girar a chave para dar a partida, começou a sorrir e sorrir. E desse riso, começou a gargalhar. E alto. "Engraçado, agora tem gente!" pensou quando percebeu as pessoas que passavam ao lado do carro com olhares assustados ao ver aquela senhora bem arrumada sorrindo feito uma desvairada.

"Senhor, obrigada por esse livramento, obrigada!" exclamou ela ao dar partida e sair com o carro. O bandido levou apenas uma bolsa pequena, contendo o convite do casamento, um pequeno estojo de maquiagem, o cartão do banco (o bloqueio seria providenciado em instantes), o RG e só. Seu celular ela havia deixado dentro do carro. O dinheiro sacado em quinze notas de cem reais, estavam bem acomodados entre seus seios, sem fazer qualquer volume em seu vestido, imperceptíveis. Nunca que ela colocaria uma quantia dessas soltas em uma bolsa. Arrancando rápido com o carro, com medo que os bandidos retornassem quando perceberem que roubaram apenas uma bolsa com um cartão sem senha e maquiagem, seguiu cantarolando, já não mais preocupada em chegar atrasada ao casamento.


Qualquer um de nós

       Dona Edith saiu esbaforida do banco. Acabara de sacar mil e quinhentos reais  na "boca" do caixa, pois sozinha não sabia us...